Defender a auto-regulação e recusar os provedores?

(Não há ninguém que não defenda a auto-regulação; mas quando se trata de dar o primeiro passo...)

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terça-feira, dezembro 28, 2004

Ainda os relatos de futebol

O tema voltou à actualidade por causa do texto do Público de hoje: "Comissão da Carteira [Profissional de Jornalistas] quer relatos feitos só por jornalistas".
Ali, como aqui, se fala em "acto jornalístico" e se o relato o é ou não.
Na minha opinião, não é porque não consegue ser. E não vale a pena enganarmo-nos - como parece acontecer com esta declaração de Alfredo Maia: «O presidente salientou também as obrigações éticas e deontológicas dos relatores, reconhecendo a existência no desporto de "um factor de emoção preponderante", que deve apelar a um esforço dos profissionais para garantir a equidistância face aos campos em causa
Embora as motivações sejam certamente diferentes, estou com o presidente da APR:
«Segundo o presidente da APR, José Faustino, "à luz do nosso código deontológico, os relatos não são actos jornalísticos" porque fazem apelo à emotividade. "Num jogo da selecção nacional, por exemplo, não se espera que um golo de Portugal seja relatado com o mesmo entusiasmo de um golo do adversário." Para aquele responsável, os relatos devem poder ser feitos tanto por jornalistas portadores de carteira profissional, como pelos que não estão abrangidos por este tipo de credenciação. "O que está em causa é a forma como o relato é conduzido. Um jornalista com carteira tem obviamente outra responsabilidade, e a obrigação acrescida de garantir a imparcialidade".»
Ou seja, preparamo-nos para mais uma decisão tomada sem ter em conta a realidade, e continuaremos, alegres e contentes, a achar que podemos fazer jornalismo durante o relato de futebol!


ACTUALIZAÇÃO a 29/12: Além dos comentários que entendeu colocar neste texto, Rogério Santos volta ao tema no seu Indústrias Culturais.
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Jornalismo comparado (2) sobre o "tsunami"

A presença de enviados especiais, numa reportagem (só há enviados especiais no entrangeiro), pode representar um ganho de qualidade informativa mas desempenha sobretudo um papel de alerta/reforço psicológico junto do ouvinte/leitor/teleespectador - como se o órgão de comunicação social dissesse aos seus receptores: atenção que o que vão ouvir/ler/ver foi presenciado pelo nosso repórter (e se entendermos o repórter como o prolongamento dos ouvidos e dos olhos do ouvinte/leitor/telespectador...).
Não admira, por isso, que - em face da tragédia no sudeste (já ouvi várias vezes sudoeste...) asiático - a comunicação social portuguesa se mobilizasse. Mas surpreende que nem todos tenham optado pela aposta num enviado especial.
Aqui fica a lista:
Antena 1 - António Veladas (na Tailândia, jornalista em Timor)
RR - Catarina Neves (na Tailândia, jornalista da Sic, em "serviço especial")
TSF - Paulo Azevedo (na Tailândia, correspondente em Macau)
RTP - António Veladas e Pedro Lavrador (?) (ambos na Tailândia)
TVI - Alfredo Vaz (na Tailândia, jornalista free lancer em Macau, em "serviço especial")
SIC - Catarina Neves (na Tailândia, "enviada especial")
Correio da Manhã: Rui Frias (em Macau) e Alfredo Vaz (na Tailândia, "serviço especial")
JN - Nelson Mateus (em Macau)
DN - João Costeira Valeira (em Macau)
Público - Luísa Pinto (na Tailândia, "enviada especial") e Carlos Picassinos (em Macau)
A Capital e O Comércio fizeram pela Lusa (mas sendo do mesmo accionista, faria sentido uma "vaquinha" nos custos).

Notas a retirar:
1) O assunto é hoje, como foi ontem e será amanhã, abertura de todas as edições. Com vários minutos e páginas; a excepção - coincidência ou não - encontra-se em A Capital e em O Comercio do Porto, respectivamente com o desejo de Paulo Pedroso continuar como deputado e as batatas fritas perigosas!
2) Todos sentiram a necessidade de ter relatos de proximidade;
3) DN e JN atrasaram-se perante a concorrência;
4) No caso da concorrência com o JN, o Correio da Manhã trabalhou bem a contratação do jornalista "free lancer";
5) A Rádio Renascença, perante a sua concorrência mais directa, é a que terá mais dificuldades - a jornalista da SIC terá a disponibilidade desejada?
6) É duvidoso se os ouvintes/leitores/telespectadores diferenciam o "enviado especial" do "serviço especial"; mais importante é saber que o repórter está no local onde há a notícia;
7) Macau, afinal, foi importante - já o disse, é a terceira cidade do mundo, depois de Lisboa e Porto, onde há mais jornalistas portugueses!

ACTUALIZAÇÃO A 29/12: A Visão enviou Rosa Ruela para o Sri Lanka, onde a RTP já tem mais uma enviada; a TVI destacou hoje Vítor Pinto como enviado especial à Tailândia (mais vale tarde...); o resto do panorama mantém-se relativamente igual... com Alfredo Vaz a garantir a TVI (mas não o Correio da Manhã)

ACTUALIZAÇÂO a 3/1/05: o provedor do JN trata o assunto ontem ("Especialmente a partir de quarta-feira, um facto me chamou particularmente atenção: porque é que o JN ainda não tinha um ou mais enviados especiais na zona?"). O director, José Leite Pereira, tem uma resposta curiosa, pela sinceridade: "No início, terá havido, a esse respeito, uma má apreciação nossa". (não está on line)
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