Defender a auto-regulação e recusar os provedores?

(Não há ninguém que não defenda a auto-regulação; mas quando se trata de dar o primeiro passo...)

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sexta-feira, agosto 25, 2006

ACT As notícias, a voz e a rádio

Esta notícia (e também esta) parece indicar um novo caminho na forma (futura) de apresentar os noticiários na Antena 1. De acordo com esta frase de José Mário Costa, a ideia é que “só poderá voltar a dar notícias (...) um bom comunicador a ir ao microfone e não um editor”.
Como o título deixa perceber, a ideia é um pouco regressar ao passado, quando quem lia as notícias eram «apresentadores» e não jornalistas (por outras palavras, os jornalistas escreviam e os «apresentadores» liam).

Esta ideia suscita-me muitas reservas (por isso se fala em «vencer as resistências»...) : concordo que a democratização no acesso ao microfone por parte dos jornalistas de rádio baixou muito o paradigma de qualidade (e que as funções de um editor vão muito além de ler as notícias), mas entre isso e ter alguém que não é jornalista a ler um noticiário, prefiro claramente a primeira opção:

- um «apresentador» pode ler as notícias que alguém escreveu (ou até as pode escrever), mas quem faz as perguntas num directo?
- o «apresentador» também as escreve? Com que autonomia?
- perante uma notícia de última hora, que exige improviso, contexto, sangue-frio, domínio mínimo do assunto, adia-se para o próximo noticiário?
- o «apresentador» é um jornalista (à luz da lei, ler os noticiários é uma actividade jornalística)? E qual o seu grau de autonomia? Pode sair do alinhamento do noticiário para referir um golo de um jogo que está a ser transmitido na televisão, por exemplo?
- será que estamos a falar do «locutor absolutamente neutro, despessoalizado, mero «instrumento de estúdio»?

Para concluir, e entre extremos: entre uma excelente voz, que jornalisticamente pouco produz, e uma voz normal, mas que tem garra e intuição jornalística, prefiro sem dúvida a segunda hipótese.

Qual é a solução? Do meu ponto de vista, melhorar a formação dos editores no desempenho vocal (quando necessário) e criar equipas em que sobressaia a figura do produtor: tendo a confiança profissional do editor, e em sintonia, o produtor deve ser o prolongamento do editor não só quando este está a ler as notícias (ou melhor, em sentido mais vasto e ambicioso, a editar) mas também quando está a escrever ou ocupado a ouvir uma peça.

PS - a ideia de formar jornalistas é altamente meritória e a RDP esteve bem em concretizar a aposta.

ACT a 30/08/06: recebi hoje um (longo) comentário/resposta de José Mário Costa a este texto. Está aqui na íntegra. E aqui fica um excerto: «o que digo, e defendo há longos anos, é que a rádio portuguesa só se libertará da sua miserável subordinação às agendas organizadas e à colagem às notícias dos jornais (escritas na véspera!), ainda por cima repetidas “ipsis verbis” até ao enjoo absoluto – ou, não raro, até ao seu próprio desmentido – quando adoptar o mesmo modelo de organização de qualquer televisão... em Portugal»
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