Defender a auto-regulação e recusar os provedores?

(Não há ninguém que não defenda a auto-regulação; mas quando se trata de dar o primeiro passo...)

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segunda-feira, outubro 31, 2005

(act) Mais do serviço público (agora a Antena 3)

Aqui vai:
1) Sou um defensor intransigente do serviço público de radiodifusão e acho que faz falta a Portugal um verdadeiro serviço público de rádio;
2) Acho que, por definição, serviço público e grandes audiências são incompatíveis (mas a BBC mostra que nem sempre é assim);
3) Ao serviço público compete assegurar uma oferta radiofónica não coberta pelas rádios privadas;
4) Uma rádio de serviço público não deve, por definição, replicar um formato de rádio existente nas privadas;
5) Finalmente, uma rádio de serviço público deve ter uma preocupação com a preservação da língua e cultura de cada país;

Neste cenário, não faz sentido a RDP ter no seu conjunto de rádios uma estação que é globalmente igual a outras (privadas). O facto de ter um grande desafogo financeiro e não precisar de publicidade acaba por se constituir como concorrência desleal *.

Mas já que existe, que seja uma rádio que preserva a música e a cultura portuguesa. A Antena 3 faz isso? A Antena 3 tenta fazer isso, mas fica muito longe. Para aumentar as suas audiência e competir directamente com a Mega, a Best, a Nova Era ou a Cidade, a Antena 3 replica basicamente a play list da concorrência (e vice versa) e dedica as quintas-feiras à música portuguesa (uma rádio portuguesa, propriedade do Estado português, não pode dedicar um dia à música portuguesa!).
Mas porquê só a música? Por que não jovens criadores plásticos, pintores, actores, cientistas, académicos, empresários, etc? Por que não divulgar, por sistema, mais bandas jovens?

Tudo isto entronca, penso, na ausência de uma definição sobre o que é efectivamente o serviço público de radiodifusão - e, do que conheço da Antena 3, há apenas um programa que me parece ser de verdadeiro serviço público, a Prova Oral.

* Espero que o argumento para justificar a existência da Antena 3 não seja o de que tem uma cobertura nacional, enquanto a concorrência se fica pelo litoral. Seria um argumento muito fraco, pela desistência de motivações.

Act a 2/11: Valdemar Cruz mandou-me um longo email, em que revela discordâncias e alguns (poucos) pontos de vista comuns com o que escrevi. Fica um excerto:
"Poderá ter a sua «play list» (parece que agora toda a gente tem), mas, se tem, afina por outras lógicas. Claramente, a música que ali se ouve, é outra. Por acaso terá sido apenas por ironia que destacaste o programa «Prova Oral» como exemplo de serviço público. Eu preferiria chamar a atenção para o programa «Coiote», transmitido à noite – dedicado às músicas do mundo – e, já agora, pergunto-te que outra estação estaria em condições – ou teria interesse – em transmitir em directo, todos os anos, o Festival Músicas do Mundo, que se realiza em Sines? Já nem te falo das missas – que até acho que não seria obrigação da Antena 1 transmiti-las, e que só entendo numa lógica de serviço público – nem daqueles enormes especiais que às vezes a Antena 1 inventa, mas que inventa precisamente porque a isso se sente mais ou menos obrigada pela sua condição de rádio do Estado. Falas da concorrência e atiras-te à Antena 3 por também transmitir a música que, afinal, o público a quem se dirige, gosta e exige. Essa agora! Então o que é que devia fazer? O serviço público, para o ser, tem de ser aborrecido de morte? Tem de andar afastado dos gostos e das tendências dominantes? Tem de tapar os ouvidos face à realidade circundante? E olha que não é verdade que a 3 acantone a música portuguesa nas quintas-feiras. Basta ouvir as emissões ao longo dos dias. É claro que não basta dar o que os outros dão. É preciso ir mais longe. Nisso estaremos de acordo."

Act a 8/11: só hoje vi o texto de Francisco Amaral de 1/11:"A Antena 1 mantém-se o canal de todos e de ninguém. Sem correr riscos, é o melting pot do Portugal estável, aquele que afinal não chega para sair do canto. A Antena 2, tentou, timidamente, abrir outras portas (jazz). Muito poucas. Com cobertura nacional, produz para uma pequena minoria (contrária à imensa minoria da traída XMF). É um óbvio refúgio (a que também recorro), mas todo o ambiente e estética respira o peso de meio século. A Antena 3, continua a cumprir os seus desígnios iniciais : no suposto discurso juvenil, manter a alma da Energia domesticada."
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O valor das palavras

Há alguns dias li num jornal diário esta frase: "Patrocinada pelo advogado socialista Rui Polónio Sampaio, a acção é contra o Estado, não contra o anterior ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, ou contra o actual, Correia de Campos".

O que é um advogado socialista? É um advogado funcionário do PS? É um advogado que apenas trabalha para o PS? É um advogado dirigente do PS? Claro que a jornalista quando escreve "um advogado socialista" pretende transmitir uma mensagem (provavelmente que é um advogado próximo, talvez conotado - expressões que não são sinónimas de «advogado socialista»). Mas é uma formulação grosseira e que denuncia um preconceito - que um advogado próximo do PS patrocina uma acção contra o Estado, liderado pelo PS.
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José Manuel Fernandes explica

Lembram-se deste caso? Pois José Manuel Fernandes explica-se hoje em editorial.
Um texto equilibrado e - parece-me - rigoroso, que esclarece algumas questões e deixa os seus leitores globalmente satisfeitos, mas que não preenche duas dúvidas:
- não se esclarece, pelo menos para já, quem foram os dirigentes do PS que falaram com Fátima Felgueiras. Mas o director do jornal lembra que "as mesmas fontes que nunca nos enganaram no passado nos confirmaram, entre outras notícias que suscitaram perplexidade, os contactos prévios entre Fátima Felgueiras, designadamente através de intermediários, com membros do secretariado do PS. O PÚBLICO tem indicações sobre quem foram esses elementos, mas necessita de conhecer melhor as circunstâncias dos contactos antes de revelar esses nomes".
- como se recordarão alguns, aquilo que na altura foi designado por "micro-causa" destinava-se a pedir respostas ao jornal. JMF explica que não o fez antes, como também disse no Clube de Jornalistas, porque "o facto de tudo isto ter decorrido em plena campanha eleitoral e de a primeira sessão do julgamento de Fátima Felgueiras estar marcada para poucos dias depois do acto eleitoral levou-nos a optar por deixar passar a campanha eleitoral para darmos os devidos esclarecimentos num ambiente menos inquinado". Antes, como agora, não me parece um argumento suficientemente forte; isto devia (podia?) ter sido dito nos dias seguintes.
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