Volto a um tema de certa forma recorrente neste blogue: o trabalho jornalístico feito por não-jornalistas.
É um tema polémico, na medida em que de imediato surgem as acusações de corporativismo. Tenho tentado demonstrar, ao longo destes anos, que não tenho posições corporativas face à classe, mas isso não é contraditório com a defesa inequívoca do jornalismo.
E volto ao tema porque vi esta semana dois programas feitos por Daniel Oliveira na SIC, sobre a selecção de Scolari - imagens únicas e mesmo históricas, nomeadamente aquelas que mostram o interior do balneário antes de grandes jogos.
Há muito que Scolari e Daniel Oliveira estabeleceram uma forte relação; Scolari percebeu que tinha em Daniel Oliveira um
interlocutor privilegiado, que lhe dava não só palco como segurança; a questão é que Daniel Oliveira não faz jornalismo, não se baliza por critérios jornalísticos (nos temas, nas perguntas, na equidade), pode fazer o que e como entender, sem qualquer tipo de escrutínio (que não seja o das audiências; o telespectador, certamente, nem fará a diferença).
Scolari teria escolhido Daniel Oliveira se ele fizesse jornalismo? O certo é que não há outro interlocutor (e
Nuno Santos sabe bem disso...).
A situação é de tal maneira perversa que, enquanto esteve na RTP, várias vezes jornalistas fizeram trabalhos com declarações que Scolari fez não a eles, mas a Daniel Oliveira. Em exclusivo.
PS - percebeu-se finalmente porque é que Portugal perdeu a final do Euro 2004; Scolari falou de tudo no balneário menos de futebol...